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NOTÍCIAS

13-04-2012

Bate-papo com José Roberto de Amorim

José Roberto de Amorim é cadeirante, tem uma deficiência de coordenação motora desde que nasceu. Seu estado físico não é genético, foi um “acidente” emocional que sua mãe passou enquanto estava grávida dele. Zé Roberto é casado com Zelinda Borges Rego, que tem paralisia, e o casal tem uma filha de 3 anos, Yara Letícia, que nasceu perfeita.

Num mundo consumista, materialista e egoísta que vivemos hoje, o conceito de perfeição é totalmente irrelevante nesta situação, pois esta família de “deficientes” (aos olhos da sociedade) prova que é possível, sim, ser feliz, ter uma vida absolutamente normal, e, principalmente, contribuir para uma sociedade melhor, coisa que, infelizmente, a maioria das pessoas que se dizem “normais” não faz.

E este é o grande exemplo do Zé Roberto neste bate-papo exclusivo que agora publicamos na íntegra aqui no site do Instituto Paramitas.

O Zé Roberto recentemente participou da Conferência de Capacitação para pessoas carentes, ministrando uma palestra no CIC (Centro de Integração da Cidadania) de Ferraz de Vasconcelos, no dia 03 de abril.  Dentre os temas abordados, estavam educação, esporte, trabalho, reabilitação profissional, saúde, prevenção, próteses, segurança, justiça, padrão de vida, comunicação, transporte, moradia e acessibilidade, que foi o tema sobre o qual Zé Roberto falou.

 

 

 

Estavam presentes cerca de 40 pessoas que representaram a comunidade do município de Ferraz de Vasconcelos e que ouviram atentamente à fala do Zé Roberto.

Em seguida, sob a coordenação da assistente social Elizabeth Bento de Souza, algumas pessoas puderam participar contando suas experiências com uma pessoa deficiente na família. Falaram à comunidade mães de pessoas autistas, deficientes visuais e até albinos.

A próxima conferência que também irá falar sobre inclusão e acessibilidade de pessoas carentes ou deficientes será no Parque da Juventude, em São Paulo. Fique atento no Calendário de Eventos do Instituto Paramitas para saber a data exata e como participar.

Zé Roberto é pensionista com uma renda mensal de apenas um salário mínimo. Ele já ministrou palestras pela Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo, sobre a saúde da pessoa deficiente e no treinamento de profissionais que atendem em postos de saúde e hospitais.

“Também falo sobre o direito das pessoas com deficiência na educação, inclusão e, finalmente, sobre a valorização da vida para os jovens”, nos conta Zé Roberto de Amorim, que já foi presidente do Conselho Municipal da Pessoa Deficiente (CMPD) e também conselheiro, além de ter participado dos conselhos Estadual para Assuntos das Pessoas Deficientes do Estado de São Paulo e do Municipal da Saúde da cidade de São Paulo.

Perguntamos ao Zé Roberto como um cadeirante ou alguém com outro tipo de deficiência pode contribuir para a sociedade, e sua resposta foi que todas as pessoas são cidadãs, independente de sua condição física, e por isso devem mostrar suas necessidades para a sociedade, lutando para que providências sejam tomadas, e que o governo, os conselhos e as entidades tenham a obrigação de promover e executar uma transformação social para todos.

Zé Roberto foi aplaudido de pé por toda a comunidade de Ferraz de Vasconcelos.

 

“As pessoas deficientes devem ser incentivadas e provocadas a entrarem na luta, participando dos conselhos por meio das plenárias e/ou grupos de trabalhos”, continua Zé Roberto. “Devem também saber se indignarem com as coisas erradas que acontecem sem que os responsáveis sejam punidos ou no mínimo cobrados. Saber também de sua responsabilidade no ato sagrado de votar e serem eleitos e que temos este direito e dever.”

Zé Roberto de Amorim fala de educação: “A importância da escola está implícita em tudo que eu disse aqui, por meio da alfabetização e da luta para chegar ao 2º grau. Foi assim que obtive maiores chances de compreender as coisas e as situações. Hoje, se um cidadão não tiver o mínimo de escolaridade, não consegue colocação profissional, a não ser em sub-empregos. Portanto, devemos valorizar e exigir o direito primário da alfabetização e da formação profissional.”

As expectativas de Zé Roberto são que suas atitudes, suas palestras e o que ele disse aqui nesta entrevista “possam contribuir para que as pessoas tomem uma atitude de transformação.” O seu principal objetivo é alimentar e efetivar a transformação social, sem nenhum tipo de discriminação.

“Sou um ser humano que sempre lutou e continua lutando muito para ter o que tenho hoje, mesmo que ninguém acredite em uma pessoa que fala com dificuldade e balançe o braço e o corpo por falta de coordenação motora. Nasci deficiente em uma família pobre, segundo os padrões da época. Os médicos deram a sentença fatal aos meus pais: ‘O Zé Roberto não pode fazer mais nada na vida’. Porém, hoje eu tenho o 2º grau completo, casei e tenho uma filha de três anos. Acho que os médicos se enganaram. Ainda tenho sonhos que quero realizar como fazer uma faculdade, ver minha filha crescer, estudar, enfim, ser alguém na vida.”

Zé Roberto já é alguém na vida e com certeza foi, é e ainda será responsável por muitas mudanças, seja de comportamento e até na sociedade, é o que nós esperamos.

(Por Cláudia Levy)