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ARTIGOS

17-06-2015

A importância da avaliação de impacto em Programas de Educação

           É consenso entre os educadores que a avaliação é uma parte importantíssima do processo de ensino - aprendizagem. Mais do que isso, o tema Avaliar vêm sendo objeto crescente e constante de pesquisa nas universidades brasileiras, tornando-se assunto sociomidático e de interesse público. Para além da sala de aula, avaliar a aprendizagem se transforma em saber reconhecer e distinguir competências e habilidades, em um determinado espaço de tempo, dentro de uma conjuntura de possibilidades. Ainda que a figura do professor mantenha sua importância na mediação entre o aluno e o conhecimento, é na hora de avaliar que o educador precisa exercitar seu poder crítico e suas capacidades pedagógicas. Tarefa árdua, complexa e muitas vezes ingrata.  Avaliar um aluno passou de simplesmente somar e dividir notas ou conceitos, a saber mensurar processos psicossociais, em uma perspectiva de médio prazo.
          Em Programas de Educação, o sentido da avaliação assume também este caráter complexo. É preciso tecer, em conjunto com os outros componentes do Programa, uma estratégia avaliativa que leve em consideração muito mais que fatores numéricos, mas sim seja capaz de integrá-los dentro de uma realidade social ampla, como é a realidade de qualquer estabelecimento de ensino no Brasil.
          Para se atingir essa realidade, é preciso ter uma visão clara de quais são os objetivos do Programa avaliado. E eles, em geral, são muitos e pretensiosos, dividindo-se em objetivos de curto, médio e longo prazo, podendo variar de complexidade: desde formar um número X de professores em determinado espaço de tempo, até incrementar o IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) em X pontos percentuais.
         Como a maioria dos assuntos em Educação, não há uma receita de bolo milagrosa que dê conta de qualquer Programa, em todos os seus aspectos, em qualquer realidade. O importante é que a avaliação esteja presente desde os primeiros desenhos, e que todos os instrumentos de verificação sejam elaborados tendo em vista os objetivos e os níveis de complexidade para aferição. Nada pior que fazer uma leitura avaliativa a posteriori, quando todo o trabalho já foi feito e é preciso, mais do que realmente ponderar sobre o impacto, justificá-lo.
         Nesse sentido, é necessário fazer uso das metodologias que permeiam a chamada pesquisa qualitativa em Educação, nomeadamente dos questionários, observações - participantes e entrevistas. Quanto mais dados forem coletados para se mensurar um determinado fragmento de realidade, maiores são as chances de compor um quadro crítico que contenha todas as variáveis possíveis, e assim analisá-las. Toda avaliação de Programa precisa atender a aspectos quantitativos e qualitativos, caso se pretenda ser um meio eficaz de verificação de resultados. Tomemos como exemplo a criação de um Índice de Desenvolvimento, como o Índice de Desenvolvimento da Família, instrumento criado pelo IBGE para mensurar a situação das famílias brasileiras. O Índice é positivo, ou seja, variando entre 0 e 1, com a situação melhorando na medida em que o Índice se aproxima de 1. Dessa maneira, têm-se um retrato matemático e quantitativo de uma realidade qualitativa, aferida a partir de entrevistas, que de maneira geral são questões sociais, afetivas e econômicas amplas. Essa fórmula binária pode ser muito útil em casos de avaliações pedagógicas, um demonstrativo numérico que não despreza a complexidade do assunto.
        Por falar em resultados, é imprescindível que o avaliador tenha em mente não só quais os resultados desejados e verificáveis, como também interpretá-los corretamente. Em uma educação que se pretende democrática, discutir com todos os atores sociais envolvidos no Programa os números e suas implicações, significa obter a dialogia necessária para efetivamente compreender o real alcance, e, portanto o impacto da ação. No momento de se criar um instrumento de verificação, é preciso dialogar com os atores quais os desafios, problemas e aspectos que permeiam a ação que será desenvolvida. Da mesma forma, na coleta, esse diálogo sempre se mostra fecundo para reordenar ou aferir o real impacto social, político e pedagógico que a ação alcançou.
         Assim, a Avaliação reconhecidamente pode contribuir, de forma construtiva, no sentido de oferecer novos direcionamentos, reconfigurando o caráter do impacto, definindo caminhos, que é justamente aí que reside a importância de se ter uma visão avaliativa desde os primeiros passos de um Programa em Educação. Isso significa que, mesmo no momento de desenho e de planejamento, uma boa avaliação consegue visualizar as estratégias utilizadas, encontrar os meios de verificação mais adequados, e fazer com que todo o processo seja pautado pela construção colaborativa de conhecimento.

Rafael Lopes é professor, mestrando em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo e Analista de Projetos em Educação pelo Instituto Paramitas, com experiência em Avaliação pelos programas da Intel® Education no Brasil.